— Capítulo Dois —
Até as últimas conseqüências.
O rosto
de uma jovem de uma magreza anoréxica estava coberto por uma espécie de saco de
pano preto — eram
impossíveis as réstias de luz infiltrarem-se pelo tecido grosso. Ela estava
sentada em uma cadeira fria de metal, imóvel, em uma posição desconfortável,
com as mãos algemadas às costas e o pescoço acorrentado a uma argola no chão.
Moveu
as algemas, mesmo sabendo que não conseguiria abri-las. Estavam tão apertadas
que ela perdera a sensibilidade nas mãos. Não soube dizer quanto tempo
transcorreu até ouvir de novo os passos de seu algoz.
De
repente a escuridão fora quebrada quase que bruscamente. Sua cabeça girou com o
súbito fluxo de luz, que cegou momentaneamente seus olhos sensíveis.
Ouviu
o barulho de móveis sendo arrastados, e enfim pode abrir os olhos que
lacrimejavam com a exposição. Até que surgiu uma jovem em seu campo de visão.
Ela tinha longos cabelos louros, com um fundo em dégradé escuro, que faziam um contraste
enigmático com seu rosto de querubim.
Vestia uma calça skinny de couro que abraçava suas pernas, e uma jaqueta de couro
aberta que revelava um corpete vermelho como sangue.Tinha um ar selvagem.
—
Desconfortável? — ela perguntou a delicada moça presa a cadeira. A jovem
manteve-se calada, com cuidado para não fitar os olhos dessa garota. Se
realmente fora ela que a deixou inconsciente, devia ser uma bruxa poderosa. —
Olhe para mim, Boleyn!
O
rosto da jovem loura alterou-se de repente. Num salto, aproximou-se da menina
dócil e a pegou pela cascata de cabelos ruivos.
A ruiva esbravejou: — Não sabe com quem está
lidando! Mesmo que seja de uma família Ancestral... Seu domínio não é
suficiente para me enfrentar! — a face corada e redonda da pequena garota se
distorceu por um segundo: os olhos verdes reduziram-se a duas fendas com olhos
tão negros como um céu sob o efeito do eclipse, a pele parecia craquelada,
surgindo inúmeras escamas de aspecto asqueroso. Os cabelos ruivos brilhantes e
sedosos caíram ao redor da cadeira.
A
criatura remexeu-se violentamente, apenas conseguindo que as correntes
cortassem suas escamas, e a cadeira virasse contra o chão. Deitada com o rosto
no chão de cimento frio viu o contorno de um pentagrama — feito de sal, mas não
era um simples pentagrama, era um pentagrama invertido.
— Devo
admitir que está certa, Keyla... é esse o seu nome, não é? — a jovem loura
pôs-se a caminhar pelo porão enquanto refletia em voz alta. — Continuando...
mesmo um bruxo de família ancestral não poderia destruí-la. Porém, eu não sou
apenas uma bruxa ancestral, como deve ter percebido. Eu sou uma guardiã.
A
jovem ergueu a cadeira. Depois sentou-se diante dela com as pernas cruzadas.
Então pegou uma faca e pôs a ponta dela na pele grossa bem embaixo do olho da
criatura.
— Sabe
prefiro você assim ao natural. — a expressão se alterou, os olhos azuis da
jovem parecem inflamados e vermelhos. — Você não contava com isso. Seu plano
era eliminar o novo guardião de nossa família, certo? Não precisa responder. Eu
sei a resposta. — ela continuou sentada na cômoda sem dizer nada por uns cinco
minutos e sem olhar para a criatura. — Você cometeu um erro. Deixou rastros,
conhece alguém chamado Tyler? Um homem muito bonito devo dizer, com aqueles
cabelos negros. Pena que esteja morto.
A
Boleyn sentiu um ódio crescer em seu peito e se descontrolou. Forçou as
algemas. Ela assumiu o controle.
Impossível. Estava impossibilitada de fazer o que quer que fosse.
— Não
adianta. O pentagrama invertido é um feitiço muito complexo, mas sem dúvida
muito eficiente.
— Quem
é você, merda? E o que fez com Tyler?
A
jovem puxou a cômoda e sentou-se de modo a poder olhar a criatura bem nos
olhos.
— Me
chamo Blaine Winston. Você deveria saber quem sou... Afinal você e seu parceiro
Boleyn executaram Patrick Winston. Ele era minha alma.
— Eu
não entendo. Ele era o guardião.
— Sem
dúvidas. Mas, agora eu sou a nova guardiã. E você vai me contar o que eu
preciso saber...
— Não.
— Blaine desferiu um golpe seco na face da criatura.
—
Talvez isso ajude. — Blaine tirou de dentro das vestes de couro, um lenço, e
dentro do lenço havia um dedo decomposto com um anel de rubi. — Acho que era do
parceiro, certo?
— O
que você fez com ele? — a Boleyn sacudiu o corpo inutilmente, fazendo com as
correntes apertassem ainda mais seu pescoço.
— Ele
quem pediu por isso. Sempre falam que um assassino gosta de visitar o local do
crime. Minha avó já desconfiava que tinha o dedo podre e pra lá de decomposto
de um Boleyn. — Blaine riu ao brincar com o dedo mal-cheiroso. — Desculpe a
piadinha. E claro que seu parceiro foi muito tolo em voltar, minha vó e outros
bruxos o capturaram. Ele foi muito útil para me esclarecer várias questões.
Inclusive que a morte de Patrick faz parte de um plano. Agora, me diga que
plano é esse?
A voz
da criatura era áspera como uma lixa: — Ele
não te contou? — ela perguntou presunçosa, certa que fora uma tarefa difícil
capturar seu parceiro. — Pensei que ele tinha lhe dado informações valiosas.
— Bom,
digamos que eu tenha me descontrolado. Ele se mostrava muito pouco receptível a
certos estímulos... Confesso que acabei exagerando... E a última coisa que ele
disse foi seu belo nome. Que romântico dizer o nome da amada nos últimos
instantes de vida.
— Sua
maldit... — não conseguiu terminar o insulto. A argola a impedindo de respirar.
— Está
muito apertado? Não consegue respirar? — Blaine afrouxou um centímetro ou dois.
— Não quero que morra asfixiada daqui a pouco.
— Não
me importo em morrer. Não vou dizer nada.
A
Boleyn nunca esqueceria o rosto de Blaine no momento que a atacou. Blaine
mostrou os dentes como uma fera. Os olhos eram vermelhos e brilhantes. Moveu-se
com rapidez, erguendo a criatura com um aceno grave das mãos, as correntes não
resistiram ao golpe, partindo-se como elásticos.
Seu
corpo foi arremessado contra a parede.
— Quem
disse que iria te matar? — ela ouviu a voz de Blaine, sem vê-la no porão. —
Gosta de dor?
A
Boleyn não viu Blaine, mas sentiu uma dor física excruciante. Como se o fogo se
alastrasse pelos seus ossos, veias, explodindo em chamas em seu coração. Então
Blaine a acertou com uma espécie de taco, o golpe foi fortíssimo. A criatura
estava perdendo a consciência.
— Deve
ser agonizante morrer queimado.
Blaine
novamente moveu a mão em um movimento fluído, como se pequenas marolas
projetassem por seus dedos. O calor agonizante desapareceu.
— Quem
mandou vocês matarem Patrick? É óbvio que duas lagartixas como vocês pensariam
sozinhas nesse plano. — Blaine deu um chute no corpo asqueroso jogado aos pés,
e viu o rosto réptil mutilado a maior parte das escamas chamuscadas, os olhos
esbugalhados de pavor e a língua começando a sair pela boca. — Tudo bem, temos
até a noite.
Blaine
lançou um olhar rápido para a débil criatura.
A
Boleyn segurou com firmeza a própria garganta, o ar faltava em seus pulmões.
Sentia como se tivesse sido arremessada em mar aberto, a água infiltrando por
sua boca. Impedindo-a de respirar, seus pés e mãos se debatiam. Moveu a boca em
súplica muda, Eu falo, por favor.
—
Ótimo. Entramos em um acordo.
— Não
há nada que você possa fazer. As famílias ancestrais serão destruídas, e nos
triunfaremos, finalmente poderemos sair das sombras. Com uma fonte ilimitada de
poder, sem precisar sugar suas energias.
— Isso
é impossível. Vocês precisam de outros bruxos para viver, precisam sugar suas
forças mágicas, como parasitas.
—
Agora sim. Mas quando triunfarmos não precisaremos mais. E ele nos levará a
vitória.
—
Quem?
— O
Mestre. — a voz repleta de uma adoração perturbadora. — Seu amado Patrick se
curvou aos pés dele, antes de morrer.
Isso
fora demais para Blaine. Com apenas um olhar a criatura parecia ter sido
banhada em querosene. Logo a casa fora engolfada pelas chamas altas e ferozes,
que pareciam rugir em sua fúria.
Blaine
observou ao longe a casa que a Boleyn usava como esconderijo se desmoronar. Os
gritos ensurdecedores da criatura ecoando por entre as vigas que se
desmoronavam sobre si. Uma fumaça cinzenta e pesada subia dos destroços que
outrora foram um belo chalé.
A noite finalmente chegara, só que dessa vez a
lua exibia uma atmosfera aterradora — como se uma luz sangrenta pairasse sobre
as cinzas da casa. Era um brilho de morte e vingança.
--x--
N/A:
Depois de um longo período de seca nas originais. I'm back, baby!
Estou no pique de Eternity e esse capítulo ficou muito animal, queria deixar bem claro a mudança e o amadurecimento da Blaine. A vingança dela será maligna, e esse é apenas o começo! MUAAAAAAAAAAAAAAAÁ
Próximo capítulo começa com as novas personagens, e um HOT Gostosão!
Aguardem!
Comentem bastante!
Um beijão!
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